segunda-feira, 4 de abril de 2011

Amor, ódio e como você lida com isso

Em momentos de exasperante solidão, em meu íntimo, uma voz atemorizante sussurra com veemência: "Hás de carregar este fardo por todo o tempo que transcorrer tua execrável e insignificante existência".
No olho do furacão tateio às escuras procurando equilibrar-me no redemoinho de sensações. Quero me tornar um Cristo às avessas, sacrificar minha vida pela destruição de tudo, contemplar as colunas que sustentam o planeta desmoronarem, desfazerem-se numa difusa nuvem de destroços, poeira, sangue e dor. Tenho nesses olhos um furor descomunal, ainda que ingênuo, para adorar a beleza e plenitude de sentimentos que me fazem voar com os pés aqui assim, fincados no chão. E tenho nesse corpo uma fúria de serpente, um ímpeto que brota de meu peito, se espalhando como um veneno letal pronto para ser inoculado em minhas próprias entranhas. Humanos, raça de vermes imprestáveis, parasitas de si mesmos, anseio que desapareçam junto com esta terra que só faz enfurecer e transtornar aqueles que exilaram-se no nada e não mais toleram participar do jogo fútil decorrente da maldição primeva, o respirar-expirar.
Ao passo que rumino isso, mastigando em minúsculos pedaços minha alma já há muito esquartejada, penso (ou sinto?) que talvez haja qualquer coisa, qualquer sentimento maior, que possa sobrepujar-se a tais conflitos interiores. É possível que o amor, palavra esmaecida pelos homens, desbotada por tantos desentendimentos e enganos, tenha, apesar de tudo, desígnios maiores capazes de triunfar sobre todas as mágoas que nos afogam no mar da vida. Tento me ater ao profundo significado (existe um?) de tal palavra e por breves momentos consigo realizar futuros, conceber fugazes projetos resplandecentes e deleites de imaculado deslumbramento.
Mas. Mas. Mas. Mas como isso poderá se tornar viável se em cada um dos mais inocentes atos jaz levemente adormecido o princípio de todo mal, desencadeador de todas as confusões e tormentos que daí hão de advir? Desconcerta-me a mente e imerge em perplexidade o coração a paradoxal conclusão de que, no fim das contas, amo o ódio e odeio o amor. Todo o bem e todo mal que em mim repousam, de meu eu fazem moradia e dele se alimentam com a voracidade de lobos dilacerando aos poucos uma presa já imobilizada e cansada demais pra oferecer qualquer coisa semelhante a resistência.
Com mãos feridas de esmurrar toda sorte de rochas, deixo-me por fim desfalecer e me entrego a torrente de confusão da qual emerge toda a assim chamada realidade, o grotesco transfigurado no monstro da normalidade. E assim me torno apenas mais um, como se alguma vez houvesse deixado de ser algo mais que isso e somente isso. Todavia, existo e não mais resisto. Vivo e sou. Amo, odeio e, de todo modo, nego a ambos com igual ressentimento.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Autópsia

Vejo seu sorriso ensaiado numa fotografia qualquer, esse riso que tantas vezes apertou meu coração com força por entre os dedos, esse sorriso agora num átimo me aniquila, derruba, num fitar de olhos põe abaixo tudo o que pensei um dia poder tentar deixar que submergisse nas profundezas do tempo que escoa, se vai, cura as feridas (dizem). Mas não, cada lembrança não esquecida arde como um arranhão. E assim fico, com o desespero segurando firme a minha mão nessa madrugada sem graça, olhando um retrato casual, tentando decifrar o que deu errado, o que aconteceu com todos aqueles planos sonhados, inúmeras vezes reiterados e recapitulados em conversas, olhares, afetos. No fim dessa autópsia, tenho a amarga impressão de estar olhando pra uma certidão de óbito de algo que ainda não morreu.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Demônios

Meus demônios andam de mãos dadas comigo. Sorriem e fazem troça de meus dissabores. Zelosos, guiam-me por descaminhos rumo a abismos vertiginos, à catástrofes cada vez mais desoladoras. E riem-se, é claro. Riem um riso debochado, com gargalhadas estrondosas como as de quem encontra um passatempo divertido. Não guardo mágoas para com eles devido a isso, pois apenas agem como demônios agiriam: riem de tudo. Não haveria maiores transtornos, não fosse o irritante som que ressoa do fundo de suas gargantas. A vontade que tenho em certos momentos é de estrangulá-los, deixar-me levar por um ímpeto de violência convulsa e dar cabo deles, um de cada vez. Mas essa é uma idéia estúpida, já que estamos aqui. Aqui ninguém mata nem morre, apenas arrasta-se sem direção por entre pântanos fétidos onde o tempo parece não mais correr e o marasmo fustiga-nos o espírito com a chibata da mesmice. E assim apodrecemos aos poucos, mergulhados numa injustificável penúria, sem perspectiva alguma de mudança, juntos, eu e meus demônios no inferno.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Fome

Se um buraco negro devorasse minha alma, ficaria faminto porque eu sinto como se não houvesse nada aqui dentro.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Adeus Futuro!

De tanto remoer conjecturas acerca do Futuro, acabei por desgatá-lo, feito imagem de gravura esmaecida pela inexorável ação do tempo. Da bela fotografia que um dia chegou a ser, converteu-se num borrão, numa mancha negra e informe. Daquilo que outrora foi, não encontro mais que cacos estilhaçados pelos cantos, migalhas de uma vida que nunca se tornará o que seria. Tento convencer essa mente doentia de que tudo não passa de ilusão e assim continua sendo, mas Maia e seu véu sempre encontram seus meios de ludibriar os humanos com suas promessas e subterfúgios. Os maiores enganos são aqueles que nos encorajam - acovardam - a repetir indefinidamente o ato de inspirar e expirar, inspirar e expirar, indefinidamente. Tolos, ou simplesmente fracos demais, nosso sofrimento é quase uma opção. Não tenho a pretensão de não mais sofrer, mas do Futuro creio já estar apto a prescindir. Não mais planos e aspirações. Tudo e tão somente o que ouso almejar, há de encontrar-se ao alcance das mãos, qualquer punhado de besteiras nocivas e desnecessárias, boobagens estas que entretenham o oceano de lamentações que se tornou meu interior amargo e revulso.
Quero ser incendiado vivo por essa chama de indiferença que me queima até os ossos, incinera essa minha matéria, combinação repulsiva de oxigênio-carbono-hidrogênio que há de desintegrar-se um dia. Futuro, eis a denominação do maldito engodo que arremessa na pocilga da Esperança corações ingênuos ou cegos demais pra não negar as miragens do deserto insalubre no qual nos encontramos todos, sem motivos, sem motivos nem explicações. Vulneráveis, nós - os porcos - refocilamo-nos em mentiras consoladoras, mentiras que afagam nossa imaginação, porém esbofeteiam nossa decência, ou que restou desta.
Basta de almejar o Depois, eu quero é vê-lo em andrajos, arruinado feito mendido, abandonado e esquecido numa sarjeta qualquer. Quero ver transeuntes chutando e escarrando na sua face desprezível, tomada por chagas que há de estar. Apologia do Agora? Não. Um "carpe diem" besta pra se escrever e achar bonito? Não. Satisfaço-me em negar, negar e negar, errar uma existência inteira de negação e repulsa por tudo aquilo que É.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Soul disorder

No matter what you do,
no matter what you think
all is always bleak.
How many times
I will stare to the blue sky
and imagine that it's a rotting lie?

I just wanna spit me from myself
spit the bitter taste of nicotine
that bitter my mouth,
bitter my life,
as the time corrupts
this hateful body.

When the distance between everything
grows as a misshapen tumor
I know that the meaning has gone,
I feel something killing me slowly
and I perceive myself dying alone.

Away with the verses, away with the rimes,
here inside me there's no harmony,
there's no sintony,
just the heady
and ravishing chaos.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Guerra

Com quantos instantes vazios ainda terei de preencher esse pelotão de horas que me fuzila e insiste em marchar perante meus olhos? Não haverá nunca qualquer espécie de trégua nessa vã e aprentemente infinfável batalha contra esse todo que nos rodeia e sufoca qual forca esmagando-nos a traquéia? Danem-se as respostas. De uma forma ou de outra, somos todos culpados tão somente por continuarmos vivos, por persistirmos em vestir essa farda infame. O risível espetáculo que é o desfile de almas infectadas com o vírus do entusiasmo pulsante da vida me faz querer desertar, fugir para qualquer não-lugar em qualquer não-mundo situado em qualquer não-universo. Porém, enquanto isso permanece inviável, contento-me em esboçar um riso sarcástico, quase demente para essa guerra tola na qual todos são convocados sem razão e de repente se vêem com armas em punho, apertando o gatilho e disparando para todas as direções, imersos na imundície do lamaçal da existência.
Penso. Penso e tenho ânsias de rasgar esse uniforme medíocre num ímpeto violento, esfarrapar esses trapos já demasiado sujos e batidos e que, apesar de tudo, não significam nada. Quero o fim desta guerra, mas não com um cessar fogo ou algo do tipo. O que é preciso é um holocausto total, capaz de varrer cada resquício de humanidade presente nesse planeta. Fumaça, poeira, nunvens negras e um solo infértil onde tudo pereça. Um ermo indistinto no qual esperanças, sonhos e realizações esmaeçam como árvores outonais, e qual folhas mortas crepitem em chamas sem fim. Somente então a guerra estará terminada e todas as coisas do mundo haverão se tornado aquilo que de melhor poderiam ter sido, ou seja, nada.